O programa foi usado para desviar dinheiro para
militares de alta patente. E destinou R$ 17 milhões para o caixa 2 do PT.
O Bom Dia Brasil começa a edição desta terça-feira
(18) com as revelações dos delatores da Odebrecht sobre o
principal projeto militar do Brasil. Parte do orçamento de R$ 31 bilhões do
submarino nuclear foi pelo ralo da propina. O programa foi usado para desviar
dinheiro para militares de alta patente. E destinou R$ 17 milhões para o caixa
2 do PT.
Cinco executivos da Odebrecht revelaram o esquema
de corrupção no programa do submarino nuclear brasileiro. O ex-presidente da
Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior, contou aos procuradores da Lava
Jato como tudo foi montado. Ele disse que a empresa francesa DCNS, escolhida
para executar o projeto, procurou a Odebrecht para uma parceria.
Mas para firmar o acordo, a DCNS exigiu repasses ilegais ao representante da empresa no Brasil: o lobista José Amaro Ramos, que ficaria responsável por distribuir o dinheiro entre os demais participantes do esquema.
Mas para firmar o acordo, a DCNS exigiu repasses ilegais ao representante da empresa no Brasil: o lobista José Amaro Ramos, que ficaria responsável por distribuir o dinheiro entre os demais participantes do esquema.
"Quando da assinatura do nosso consórcio, fui
a uma reunião em Paris para a assinatura formal. E um dos executivos da DCNS,
na presença do doutor José Amaro Ramos, disse: ‘Olha, Júnior, está tudo
tranquilo, está tudo bem, mas eu preciso que o senhor faça um contrato e
comece, se prepare para pagar alguns recursos ao José Amaro Ramos. Essa é uma
condição para que essa parceria evolua’. Mas a verdade é que eu fiz, autorizei
e fiz pagamentos de quase 40 milhões de euros para esse agente", disse
Benedicto Júnior.
O executivo Luiz Eduardo Soares - que
trabalhava no departamento que contabilizava os pagamentos ilegais da Odebrecht
- disse que parte do dinheiro repassado ao lobista José Amaro Ramos era
destinada a um militar aposentado de alta patente na Marinha - identificado no
termo de colaboração como "almirante Braga".
Investigador: - Quem era almirante Braga?
Luiz Eduardo Soares: - Almirante Braga é um ex-almirante, também reformado, reformado que desse daí distribuía para as viúvas.
Investigador: - O que são as viúvas, que o senhor falou?
Luiz Eduardo Soares: - Então, de outros almirantes que já faleceram, ex-almirantes.
Segundo Benedicto Júnior, outro almirante também
foi beneficiado no esquema: o ex-presidente da Eletronuclear,
Othon Luiz da Silva Pinheiro, que está preso por um esquema de corrupção na
empresa. Benedicto Júnior diz que a empreiteira queria assessoria técnica de
Othon na área de tecnologia nuclear e pagou propina em troca disso.
Benedicto
Júnior: -- Ele era
presidente da Eletronuclear.
Investigador: - Vocês formalizaram isso?
Benedicto Júnior: -- Não, não formalizamos, fiz os pagamentos de forma irregular pelo sistema Drousys, tenho no computador os comprovantes. Os pagamentos foram feitos pelo engenheiro Fábio Gandolfo - diretor de Contrato da Odebrecht, que também fez delação premiada. Ele contou que entregou pessoalmente - a título de antecipação – R$ 1,2 milhão em quatro parcelas, na casa de Othon Pinheiro, na Barra da Tijuca, no Rio.
“Eu levava uma sacola, eram valores um pouco mais
altos, acho que valores da ordem de R$ 300 mil, por aí, geralmente eu colocava
numa sacola, subia, batia um papo com ele, entregava, ficava lá e depois ia
embora”, contou Fábio Gandolfo.
Também foram feitos cinco depósitos, no valor de
300 mil euros cada, numa conta indicada por Othon Pinheiro, totalizando 1,5
milhão de euros. Mas esses pagamentos foram barrados na Suíça porque Othon
presidia a Eletronuclear. A Odebrecht entregou cópias de comprovantes dos
depósitos que diz ter feito.
Marcelo Odebrecht,
afirmou que parte do dinheiro foi desviada para repasses ilegais ao PT. Marcelo
Odebrecht disse que inicialmente a negociação com o partido foi feita com o
ex-ministro Antonio Palloci, envolvendo repasses de caixa 2 do PT. Mas depois
foi o então tesoureiro do partido, João Vaccari, que procurou o executivo da
Odebrecht Benedicto Júnior para cobrar.
“Nós recebemos um adiantamento de R$ 650 milhões.
Nesse momento que o dinheiro caiu em nosso caixa eu fui procurado pelo doutor
João Vaccari, ele com a informação de que eu tinha recebido um valor
expressivo. E ele disse que eu deveria fazer pagamentos por conta do submarino.
Eu disse a ele: ‘doutor João, veja, nós nunca conversamos sobre esse assunto.
Nós temos uma agenda de contribuições ao partido, o senhor tem uma agenda com a Petrobras e os
executivos lá, mas nós nunca conversamos sobre o submarino’”, disse Benedicto
Júnior. Benedicto Júnior disse que decidiu não fazer o pagamento e avisou
Marcelo Odebrecht - que acabou fechando um novo acordo com o PT.
“Parece que o Vaccari continuou insistindo e eu
falei com o Palocci: ‘Olha, Palocci, então, houve esse pedido, não tem nenhum
cabimento, eu já acertei com você o valor global, não vou ficar acertando valor
por projeto, entendeu?' E o Palocci, nesse sentido, de alguma maneira, passou a
mensagem para Vaccari e esse assunto foi resolvido. Ou seja, o Palocci para
apaziguar lá o Vaccari, aceitou que eu abatesse da conta dele um valor que foi
entre R$ 6,5 milhões e parece que depois foi para R$ 17 milhões, entendeu? Foi
algo entre R$ 6,5 milhões e R$ 17 milhões”, disse Marcelo Odebrecht.
O projeto ainda está em andamento. A Marinha do
Brasil informou que o Programa de Desenvolvimento de Submarinos deve ficar
pronto em 2027.
Até o momento já foram repassados para a Odebrecht,
que integra o consórcio responsável pelo projeto, mais de R$ 6 bilhões. As
denúncias dos delatores foram encaminhadas para o Tribunal Regional Federal, no
Rio, que vai decidir pela abertura ou não de inquérito.
A defesa de Othon Luiz da Silva Pinheiro disse que
os fatos relatados não correspondem à realidade.
O Bom Dia Brasil não conseguiu contato com José
Amaro Ramos.
A defesa do ex-ministro Palocci disse que dono da
Odebrecht - Emílio Odebrecht - afirmou em depoimento que havia quatro pessoas
que respondiam pelo apelido de italiano nas planilhas da construtora.
A defesa de Vaccari disse que ele jamais pediu ou
recebeu pagamentos ilícitos.
O PT não
quis se pronunciar.
A Marinha informou que desconhece qualquer
irregularidade envolvendo o programa de submarinos e que também desconhece o
"almirante Braga" citado na delação.
Fonte: Portal Globo.com
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