As petrolíferas americanas Chevron Corp., Exxon Mobil Corp. e várias de suas empresas parceiras anunciaram na terça-feira(05) que vão gastar US$ 37 bilhões na expansão do projeto Tengiz, no Cazaquistão - um dos maiores investimentos desde que os preços do petróleo começaram a despencar, há dois anos.
Na semana passada, a BP PLC deu sinal verde à uma expansão multibilionária de um complexo de exportação de gás. Em junho, a empresa britânica já havia anunciado que está acelerando a exploração de um grande depósito marítimo de gás que descobriu no Egito. A italiana Eni SpA também está levando adiante o seu campo de gás no Egito.
Nenhum desses empreendimentos se aproxima da escala do projeto do campo de Tengiz, que já é um dos mais lucrativos dos últimos 40 anos. "É um momento excelente para fazer esse tipo de investimento", diz Todd Levy, diretor-superintendente de exploração e produção da Chevron na Europa, Eurásia e o Oriente Médio. A Chevron é a operadora do projeto.
Ao decidirem investir agora, as maiores petrolíferas do mundo devem se beneficiar de uma queda acentuada nos custos de exploração que se seguiu ao recuo dos preços do petróleo. Equipamentos, de bombas a sondas de perfuração, serviços do setor e até a mão de obra estão mais baratos porque as prestadoras de serviços foram obrigadas a baixar preços em meio à queda na atividade em relação a quando o barril era negociado em torno de US$ 100. A recente onda de investimentos pode indicar uma possível recuperação dos preços - após caírem de cerca de US$ 115 por barril em meados de 2014 para uma mínima de US$ 27 em janeiro.
Executivos das grandes empresas do setor dizem que veem a alta dos preços com muita cautela. Eles alertam que ela pode levar a novos investimentos das firmas que exploram formações de xisto nos Estados Unidos e, com isso, a produção no país pode ampliar rapidamente de novo. Ontem, o preço do barril do petróleo nos EUA caiu quase 5%, para US$ 46,60, pressionados por receios de que a exploração aumente no país.
No ano passado, uma alta de preços semelhante perdeu fôlego rapidamente. Desde que os preços começaram a despencar, em meados de 2014, até março deste ano, as companhias adiaram ou cancelaram projetos orçados num total de US$ 270 bilhões, inclusive empreendimentos de alto custo no Ártico, segundo a consultoria norueguesa Rystad Energy. E a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia adiciona um novo nível de incertezas, impactando os mercados, na definição da demanda por petróleo e dos investimentos a serem definidos.
Mas o anúncio de ontem da Chevron é um "ponto de inflexão", diz Jason Gammel, analista sênior do setor petrolífero no firma de investimentos Jefferies, destacando que ele é o primeiro aporte de mais de US$ 10 bilhões neste ano. Desde o início de 2015, a Chevron e outras grandes petrolíferas reduziram seus orçamentos em até 25%, num total de mais de US$ 30 bilhões, e eliminaram mais de 30 mil postos de trabalho para enfrentar um longo período de preços baixos.
Isso as obrigou a correr o mundo atrás de oportunidades que atendam um conjunto de critérios bem específico: têm que permitir o aumento da produção nos anos que estão por vir, assim as empresas não encolhem de tamanho, e precisam ser rentáveis com o preço do barril na faixa de US$ 50.
Não tem sido fácil encontrar negócios assim. No ano passado, as empresas ocidentais aprovaram apenas quatro projetos assim de grande porte, no Golfo do México, Noruega, Egito e Gana. Até agora, neste ano, as petrolíferas estão mergulhando em oito projetos de grande valor, de acordo com o banco de investimento americano especializado em energia Tudor Pickering Holt & Co. E outros ainda estão previstos para este ano, de acordo com a instituição.
Ainda assim, esses projetos levarão anos para entrar em operação. O primeiro barril de petróleo a ser extraído do projeto de expansão de Tengiz, por exemplo, não ocorrerá antes de 2022.
A Exxon, Chevron, Royal Dutch Shell PLC e a BP também estão investindo em formações de xisto. Essas operações exigem menos investimento inicial para começar a operar, mas não têm a escala de exploração de várias décadas dos grandes projetos.
O preço do barril do tipo Brent, referência internacional, caiu 4,3% ontem, para US$ 47,96, mas a tendência é de alta. O banco Barclays previu nesta semana que o preço ficará numa média de US$ 57 o barril em 2017, ante a estimativa de US$ 44 para este ano. O excesso de oferta que pressionou o mercado nos últimos dois anos tem diminuído devido a interrupções na Nigéria e no Canadá e ao declínio da atividade das petrolíferas americanas de xisto.
Algumas petrolíferas estão conseguindo cobrir seus custos com os preços se estabilizando em torno de US$ 50 o barril nas últimas semanas, dizem analistas. As reduções de custos que elas promoveram estão permitindo que paguem dividendos e invistam em novos projetos, diz Gammel. "Isso mostra que as empresas estão em um ponto onde podem considerar investimentos de longo prazo."
As companhias de petróleo normalmente ficam mais confortáveis em tomar decisões de grandes investimentos em produção futura quando os preços estão estáveis. O Tudor Pickering acredita que mais projetos serão aprovados este ano, incluindo o grande projeto de águas profundas da BP no Golfo do México, conhecido como Mad Dog II, e o de exploração de gás natural liquefeito flutuante da Eni em Moçambique, o Coral. A BP não informou quando o Mad Dog II será aprovado e a Eni afirmou que deve tomar uma decisão sobre o Coral este ano.
Fonte: Valor Economico/Selina Williams e Bradley Olson | The Wall Street Journal, de Londres e Houston
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