sábado, 30 de janeiro de 2016

Empresários Temem Atrasos em Projetos de Infra

Empresários do setor de infraestrutura temem que o processo de análise do pedido de impeachment se alongue e provoque uma paralisia de novos investimentos, seja por afugentar o investidor estrangeiro ou por atrasar discussões regulatórias importantes para destravar projetos, como novos leilões do pré-sal e licitações de rodovias e aeroportos.
Para o presidente da Odebrecht Transport, Paulo Cesena, o agravamento da crise política eleva a cautela dos grupos estrangeiros que têm o Brasil no radar. Para ele, por mais que técnicos do governo se esforcem para tocar novas licitações, o apetite pelos projetos pode diminuir.
- Se antes o investidor estrangeiro já estava cauteloso, agora tende a ficar mais. Esse é o impacto mais relevante. Acredito que o governo buscará viabilizar as licitações, mas o problema não é a oferta de projetos e, sim, a demanda por eles.
A Odebrecht Transport é o braço da Odebrecht para a área de logística e transporte, com participações em aeroportos, estradas, trens, entre outros.
O clima de apreensão é compartilhado por representantes da indústria petrolífera. Antônio Guimarães, secretário-executivo do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), que reúne as empresas do setor, receia que a interlocução com o governo caia num vácuo em meio à discussão política sobre o impeachment.
- O risco é de não termos interlocutor. Minha preocupação é com uma certa paralisia do Congresso. Se todo mundo ficar focado nessas discussões políticas e não olhar a nossa pauta para poder debater e aprovar projetos que têm que ser aprovados, como a obrigatoriedade de a Petrobras ser operadora única no pré-sal, essa agenda não vai ser resolvida. E ela é importante para atrair investimentos privados para o setor - disse Guimarães.
Entre 2008 e 2012, não houve leilão de petróleo justamente porque não se avançava na regulamentação do modelo de partilha, adotado para o pré-sal.
'NO COLLOR, INIMIGO CLARO'
Para Guilherme Paulus, presidente do Conselho de Administração da CVC, maior agência de viagens do país, o importante é o que acontecerá após o pedido de impeachment. Seja com a manutenção de Dilma no poder, seja com a destituição da presidente, o ideal, na avaliação dele, é ter um cenário definido.
- Com Dilma ou sem Dilma, o país tem que ir em frente. Em 2016, temos que recuperar a economia para, em 2017, todo mundo voltar a ser feliz - diz ele, que também é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão que assessora a presidente Dilma na formulação de políticas para promoção do desenvolvimento.
A crise política já havia contaminado a economia, lembra Luiz Moan, presidente da Anfavea, entidade que representa as montadoras de veículos. Ele afirmou que, como o impeachment é um instrumento previsto na Constituição, caberá à Câmara e ao Senado trabalharem de forma "legítima" para resolver a questão.
- Pessoas diferentes com interesses diferentes podem se unir em favor do Brasil.
O empresário Rogério Chor, fundador da CHL e hoje presidente da TGB, que atua no ramo imobiliário, é um dos mais céticos quanto ao futuro dos investimentos de longo prazo. Na sua avaliação, a falta de clareza quanto aos objetivos do governo joga o país em uma situação ainda pior do que a vivida no início dos anos 90, quando foi aberto o processo de impeachment do então presidente Fernando Collor.
- Na época do Collor, o Brasil tinha um inimigo claro, que era a inflação. Sabia-se que o
governo queria abrir a economia e controlar esse inimigo. Hoje, estamos com juros altos, inflação alta, desemprego alto e dólar alto. E não sabemos para onde o governo quer ir, se quer continuar ampliando gastos ou fazer o ajuste. Quando um paciente tem hepatite, você sabe que, se arrumar um bom médico, ele vai ficar bom. É preciso um bom médico para curar a doença do Brasil.
'ESPERAR A POEIRA BAIXAR'
O presidente da Fiat no Brasil, Cledorvino Belini, disse que ainda é difícil avaliar como a economia vai se comportar após a aprovação do pedido de impeachment:
- Hoje mesmo o dólar caiu e a Bolsa subiu. Por isso, tem que esperar a poeira baixar para fazer uma avaliação melhor. Ainda é muito cedo para saber.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, destacou em evento ontem no Rio que os empresários temem ficar sem interlocutores no governo.
- Estamos tentando construir uma pauta que se distancie da discussão político-partidária atual (...) E claro que (o processo de impeachment) atrapalha porque, se estamos discutindo interlocução para que essa agenda seja construída e o governo federal está com essa outra agenda... O empresário quer empreender, quer estabilidade.
Para o executivo de um banco de investimentos com trânsito no governo federal, o país viverá um momento de "dominância política", em que todos os novos negócios deverão sofrer uma reavaliação. Na sua opinião, só ocorrerão grandes negócios com vendas de ativos de empresas que não têm alternativa, como o banco BTG e demais em presas envolvidas na operação Lava-Jato.
- Só vai ter transferências de ativos de quem precisa fazer isso - afirmou ele, para quem a prorrogação de negócios e, eventualmente, de novas concessões pode atrasar mais o processo de recuperação econômica.
Fonte: O Globo - Dezembro 2015

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