“O sistema de transporte pode entrar em colapso. Não terá como transportar a produção", explica Paulo Resende, coordenador na Fundação
São Paulo – O Brasil precisa investir 300 bilhões
de reais em infraestrutura de transportes e logística até
2035: a grosso modo, divididos igualmente entre estradas, ferrovias e
hidrovias.
As conclusões são de um novo estudo da Fundação
Dom Cabral (FDC) realizado pela Plataforma de Infraestrutura e Logística de
Transportes (Pilt).
Isso permitiria que o
custo logístico das empresas caísse dos atuais 12,37% do faturamento para um
patamar próximo de 8%.
“O sistema de transporte pode entrar em colapso. Se
não se gastar pelo menos 300 bilhões de reais até 2035, o país para. Não terá
como transportar a produção”, explica Paulo Resende, coordenador do Núcleo
de Logística, Infraestrutura e Suply Chain da FDC.
Segundo ele, o custo logístico gera uma despesa de 15,5 bilhões de reais por
ano para as empresas brasileiras. Com o investimento estagnado em patamares
atuais, esse custo dobraria até 2035, chegando aos 31 bilhões de reais anuais.
O país investiu menos de 1% do seu PIB em
infraestrutura de transportes na média dos últimos 20 anos, e ainda precisará
absorver até 2035 um aumento de 35% na demanda por carga transportada pelas
estradas, ferrovias e por navios.
“É necessário, pelo menos, um investimento de uns 2%
do PIB para tornar o Brasil com condições razoáveis de escoamento”, afirmou
Resende.
Segundo ele, 70% dos recursos necessários podem vir do
setor privado, porque são viáveis economicamente. O restante o governo teria
que bancar.
“O setor público teria que investir 90 bilhões de
reais até 2035 e ele teria que pensar fora da caixa para conseguir esse
recurso. Uma possibilidade é a emissão de debêntures de infraestrutura e há
mercado para isso”, ressaltou Resende.
Peso nas contas
A Transportes Cavalinho, cuja frota de 500 caminhões
transporta por mês 2 milhões de toneladas de produtos químicos rodando 3,8
milhões de quilômetros, é uma das empresas que sentem no caixa a carência de
infraestrutura.
“É um valor substancial, porque, gastamos mais com
combustíveis e com manutenção dos caminhões. Além disso, uma viagem dura mais
tempo e isso é sentido no nosso faturamento, porque perdemos em produtividade”,
diz Paulo Ossani, diretor da empresa.
“É indiscutível que o Brasil precisa aumentar os
investimentos em infraestrutura, mas ainda há muita insegurança jurídica que
espanta qualquer investidor, principalmente o estrangeiro”, afirma ele, ecoando
um dos pontos citados no estudo da FDC.
“Hoje, o governo está quebrado e combinado a isso, tem
os menores índices de confiança dos investidores. A falta de um marco
regulatório para se tirar os projetos da gaveta também é um empecilho para
atrair o investidor estrangeiro”, disse Resende.
Ele afirmou, ainda, que o estudo tomou como referência
projetos de infraestrutura de transporte já em estágio seja de execução ou de
planejamento.
Com 100 bilhões de reais, diz ele, seria possível
intervir em 57% das estradas do país e dar um salto de competitividade.
Dividir melhor o bolo
O estudo mostrou também a necessidade de se
diversificar a matriz de transporte brasileira.
Hoje, 72% da produção é transportada por caminhões,
15% por trens e 12% por navios. Com investimentos, essa relação poderia ser
mais equilibrada.
“Há projetos de extensão da malha ferroviária já
prontos mas faltam recursos para saírem do papel.”, afirmou Resende.
Os outros 100 bilhões de reais seriam aplicados em
projetos de portos e hidrovias, e ai, se considera também o transporte por
cabotagem (navegação em águas costeiras).
Marcus Voloch, diretor de Cabotagem e Mercosul da
Aliança Navegação e Logística, que opera uma frota de oito navios na costa
brasileira e argentina, vê espaço para crescimento do setor:
“Muitas cargas, que eram tradicionais no rodoviário,
estão migrando para a cabotagem por ser mais barato em grandes distâncias”, diz
ele.
Fonte: Portal Exame, Novembro de 2018
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