Congonhas e petróleo também atraem investidores. Governo prevê arrecadar R$ 60 bi em bônus.
BRASÍLIA - O setor de energia elétrica (instalação de linhas
de transmissão e usinas) é a joia da coroa da União, segundo um ranking dos
ativos brasileiros que serão colocados à venda ou concedidos ao setor privado e
que compõem a carteira de projetos do Programa de Parcerias de Investimentos
(PPI). Em segundo lugar, está o Aeroporto de Congonhas, e, em terceiro, as
licitações de óleo e gás. A Lotex (raspadinha), da Caixa Econômica, também
desperta a cobiça de grupos internacionais, porque paga muitos prêmios, o que
atrai apostadores — 65% da receita são convertidos em prêmios. Na Mega Sena, o
percentual é de 30%.
A lista foi elaborada pelo corpo
técnico do PPI, com base em rodadas de conversas com vários investidores (setor
financeiro, fundos de pensão e operadores da área de infraestrutura). A
expectativa do governo com a inclusão de mais 57 projetos de privatização é
obter pelo menos R$ 60 bilhões em bônus em 2017 e 2018. Essas receitas vão
ajudar a fechar as contas públicas, de déficit primário de R$ 159 bilhões nos
dois anos.
— São projetos maduros, que já estão
prontos. Há demanda no mercado — disse o ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Moreira Franco.
Sete grupos interessados nas usinas da
Cemig
O caso emblemático do leilão das usinas
da Cemig, que deve ocorrer ainda este ano, apesar da pressão política
contrária, mostra o apetite dos investidores no setor. Segundo uma fonte do
governo, há pelo menos sete grandes grupos estrangeiros com proposta: o chinês
State Power, o mais decidido nas rodadas de conversas; dois fundos de pensão
canadenses; a Brookfield; a empresa italiana Enel e os portugueses da EDP; além
do francês Engie e da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL).
Técnicos que participaram dos estudos
da concessão da Lotex revelam que quatro grandes investidores demonstraram
interesse: o grupo americano Scientific Games, o indiano Eagle Press, o
italiano IGT e o austríaco Tatts Group. O governo espera um lance de R$ 1,5
bilhão e mais receitas com impostos entre R$ 3,5 bilhões e R$ 4 bilhões por
ano.
Praticamente todos os operadores
aeroportuários estrangeiros que passaram a atuar no país — e mesmo quem ainda
não participou das rodadas de concessão — já demonstraram interesse em
Congonhas, contou uma autoridade do setor. O potencial com receitas comerciais
no aeroporto mais movimentado do Brasil é o principal atrativo. Depois do
leilão de Congonhas, mencionou a fonte, será difícil manter o Santos Dumont nas
mãos da Infraero.
Para a 14ª rodada de licitação na área
de óleo e gás, prevista para 27 de setembro, a Agência Nacional do Petróleo
(ANP) já habilitou 32 empresas de um total de 36 inscritas. Entre elas,
companhias de vários países, como Rússia, China, Índia, Estados Unidos,
Alemanha, Espanha, Canadá, França e Reino Unido, além de nacionais.
— Os ativos são muito diferentes, mas
os players também são, e atuam em nichos distintos. De certa forma, todos estão
despertando interesse — disse o secretário de Coordenação de Projetos do PPI,
Tarcísio Gomes de Freitas, que precisou interromper a conversa com O GLOBO
anteontem para fazer duas conference calls com investidores estrangeiros.
Retorno de 8% ao ano com hidrelétricas
Segundo técnicos envolvidos nas
negociações, a atratividade dos ativos do setor elétrico é a receita garantida
por tarifas. No caso das hidrelétricas da Cemig (São Simão, Miranda, Volta
Grande e Jaguara), que são usinas em operação, não há mais nem risco ambiental
da obra. O retorno para o investidor, de 8% ao ano (real) num cenário de queda
da inflação, é outro chamariz. Os 11 lotes de instalação de linhas de
transmissão em nove estados, que o governo pretende licitar em dezembro deste
ano, levam entre 36 e 60 meses para serem instalados e começarem a dar retorno.
As duas rodovias incluídas na carteira
do PPI, a BR-153 (Goiás-Tocantins) e a BR-364 (Rondônia) também despertam
atenção por causa do agronegócio. Todo ano, sobem quatro milhões de toneladas
de grãos do Mato Grosso para Rondônia, destacou um técnico. O leilão da
Ferrovia Norte/Sul, que pode gerar uma receita para o Tesouro de R$ 1,6 bilhão,
também pode ter concorrência, porque o trecho da ferrovia tem sinergia com a
BR-153.
— Até mesmo a Fiol (Ferrovia de
Integração Oeste-Leste), entre Caitité e Ilhéus (BA), que pensávamos que
ninguém queria, identificamos pelo menos três players interessados — disse um
técnico.
Mesmo com o argumento de que a Casa da
Moeda é deficitária porque ninguém mais usa dinheiro em espécie, o governo
pretende faturar com a sua privatização. A propaganda oficial vai focar nas
receitas que o investidor terá com emissão de selos para cigarros e bebidas.
A Eletrobras, ativo incluído no PPI na
última hora, é outra grande aposta do governo, que já tem como estratégia usar
a experiência com a privatização do sistema Telebras. Mas, primeiro, será
preciso retirar a parte podre da companhia: as seis distribuidoras do Norte e
do Nordeste. Estas fazem parte do grupo “patinho feio” do PPI. A previsão era
vendê-las no segundo semestre de 2017, mas isso não será mais possível. A ideia
agora é flexibilizar as exigências para atrair competidores, como a meta de
perda de energia.
Outro projeto com problema é a
Ferrogrão (MT/PA) — um investimento de R$ 12 bilhões e de alto risco. O leilão
estava previsto para o segundo semestre deste ano, mas os consórcios estão com
dificuldades para obter financiamento. Na melhor da hipóteses, ocorrerá em
março de 2018. Já o leilão de aeroportos em bloco (um no Nordeste e outro no
Centro-Oeste), em que o vencedor da disputa terá que levar junto terminais
deficitários, também é um incógnita, assim como o Parque Olímpico do Rio, que
envolve a prefeitura e a União.
Fonte: Jornal o Globo Setembro de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário