RIO e SÃO PAULO - Com corte de 7% na oferta de assentos em 2016 e prejuízo acumulado de R$ 267 milhões até setembro de 2015 — mais de oito vezes a perda registrada em igual período no ano anterior —, a Azul vai devolver 20 dos 140 aviões que compõem a frota. Deste total, 15 vão para a portuguesa TAP, incluindo nove jatos da Embraer e seis turbohélices ATR, segundo fonte da aérea.
A devolução das aeronaves foi informada aos funcionários por meio de comunicado distribuído na segunda-feira. Na mesma nota, a empresa oferecia a possibilidade de licença não remunerada de até 24 meses aos tripulantes (pilotos e comissários), classificada no comunicado como “oportunidade”. As licenças terão início em abril ou maio. A companhia não informou a estimativa de adesão. Como contrapartida, a empresa oferece a manutenção da assistência médica e odontológica aos tripulantes e beneficiados por 12 meses; também permite o resgate da poupança do plano de previdência da Azul.
DEMANDA EM QUEDA PELO 6º MÊS
A Azul, como as demais empresas, tem sido afetada pela alta do dólar, que superou a barreira dos R$ 4. Cerca de 70% dos custos das aéreas são em dólar (combustível, leasing de aviões e manutenção de peças).
— O dólar valorizado é um ambiente tóxico para as aéreas. Nos EUA, a queda no preço do petróleo ajuda as companhias, pois reduz os gastos com combustível, aqui, o ganho é neutralizado pela valorização da moeda americana — avalia Adalberto Febeliano, consultor e ex-diretor da Azul.
Para ele, os aviões da Azul que serão devolvidos e que ainda não têm destino certo devem ser realocados no mercado com facilidade, pois, além dos EUA, o setor cresce no Oriente Médio e na China. Os que vão para a TAP farão parte da nova fase da estatal portuguesa, cujo controle havia sido comprado, em 2015, por um consórcio formado por David Neeleman, fundador da Azul, e um grupo português. Há dez dias, porém, o consórcio teve de reduzir sua fatia a 45%, por pressão do novo governo socialista do país.
Além da questão cambial, a redução da demanda doméstica devido à recessão no Brasil atingiu a Azul em cheio. Criada no fim de 2008, a empresa atua fortemente na aviação regional.
Segundo dados da Abear, associação que reúne empresas do setor, a demanda doméstica recuou 4% em janeiro, em comparação com o mesmo mês do ano passado. Já é o sexto resultado seguido de retração, após 22 meses de alta. No acumulado de 12 meses, a procura por viagens no país tem queda de 0,5%, algo que não acontece desde 2003.
— Com a queda da atividade econômica, as viagens a negócios caíram à metade. As empresas estavam tentando manter a demanda dos turistas de lazer com promoções, mas essa estratégia tem um limite — diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear.
A briga de tarifas para atrair passageiros agravou o resultado financeiro das empresas, que se viram espremidas entre alta de custos e queda de receita. Isso as levou a anunciar corte na oferta de assentos para equilibrar a oferta e demanda por viagens e, assim, fazer o preço dos bilhetes voltar a subir. Segundo a Abear, a tarifa média caiu 19% em 2015.
A TAM reduzirá a oferta em até 9%. Já a Gol vai diminuir o número de decolagens domésticas entre 4% e 6% no primeiro semestre. A Avianca avalia o comportamento do mercado.PUBLICIDADE
Em meio a balanços mais frágeis, aeronautas — pilotos e comissários — e empresas travam batalha pelo reajuste salarial. Os aeronautas esperam chegar a um acordo na audiência de conciliação com as companhias no Tribunal Superior do Trabalho (TST), que será realizada hoje.
Segundo o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Adriano Castanho, a categoria poderá aceitar a proposta das empresas de reposição da inflação de forma escalonada desde que haja um retroativo, mesmo que em forma de abono. Caso não haja acordo, os aeronautas prometem nova greve nos moldes do movimento realizado no dia 3, que paralisou 12 aeroportos por duas horas.
A única proposta das empresas é reajustar salários em 11%, sendo 3% em fevereiro, 2% em junho e 6% em novembro, sem pagamento retroativo.
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